A indústria catarinense é repleta de histórias surpreendentes de empreendedorismo e inovação. Uma delas vem de Forquilhinha, cidade do Sul do estado com pouco mais de 30 mil habitantes. Ali, a Teixeira Têxtil desenvolveu um processo inédito de logística reversa de big bags, um tipo de sacaria com capacidade até duas toneladas, usado para movimentação de matéria-prima entre indústrias. Nenhuma empresa do setor, em todo o mundo, havia alcançado tal proeza, reconhecida pela concessão à Teixeira Têxtil da medalha de ouro no Sustainability Design Award Egypt, no final do ano passado, e do World Star 2024, o Oscar da embalagem, processo de votação que envolve juízes de 45 países. A empresa receberá o prêmio numa solenidade na Tailândia, em junho. “Desde que começamos a desenvolver essa ideia, há dez anos, nossa equipe aguerrida não se conformou com a visão predominante de que era impossível a utilização de matéria-prima reciclada do agronegócio nos big bags“, descreve o fundador e CEO, Estefane Teixeira.
Tudo começou com a criação do Teixeira Reverse, projeto de logística reversa desenhado pela empresa para resolver um grande problema que ocorria no campo – a destinação ambientalmente incorreta dos big bags utilizados para transportar fertilizantes, principal aplicação atual desse tipo de embalagem. A Teixeira Têxtil se propôs a buscar o material, incluindo o produzido por concorrentes, com a perspectiva de produzir nova matéria-prima. Uma nova fábrica do grupo, a LR Logística Reversa, foi inaugurada há seis anos com o propósito de colocar em pé o processo de reciclagem. Desde então, cerca de 12 milhões de big bags foram retirados do campo, mas o potencial é muito maior. Os gestores da Teixeira Têxtil acreditam que, agora que o processo de economia circular se viabilizou financeiramente, poderão chegar, até o final da década, a 40 milhões de big bags reciclados por ano.
A produção atual da Teixeira Têxtil, 600 toneladas por mês, deverá dobrar ao final do processo de ampliação do parque industrial – a infraestrutura física já foi adaptada, à espera da chegada do novo maquinário. A equipe de 800 colaboradores também deverá dobrar nos próximos três anos. Outro projeto muito importante é o de internacionalização – a meta é chegar a pelo menos 30% de vendas para o exterior.
A viabilização financeira da reciclagem ocorreu por conta da inovação que vem sendo reconhecida internacionalmente. No início, a aplicação se limitava à produção de um tipo de corda, conhecido como fitilho. Mas a equipe da Teixeira Têxtil trabalhou até conseguir o reaproveitamento pleno na ráfia, a matéria-prima principal. “O mercado pensava que seria impossível fazer isso, mas demonstramos que sim, era possível, graças aos investimentos em pesquisas e muita força de vontade”, lembra o diretor administrativo, Luiz Carlos dos Santos Filho. O polímero PCR (pós-consumo) produzido a partir dos big bags recolhidos se tornou tão puro quanto a matéria-prima virgem, podendo ser rodado normalmente nas máquinas para a produção da fita e do tecido, com os mesmos padrões de resistência, durabilidade e capacidade de armazenamento. “Como ninguém tinha alcançado esse grau de pureza, as máquinas não aceitavam o material reciclado por conta das contaminações, que conseguimos eliminar plenamente”, lembra o diretor administrativo.
Com o aumento projetado do volume recolhido para reaproveitamento, o plano é que o Teixeira Reverse se torne responsável por 80% da produção total da Teixeira Têxtil num horizonte de três anos. “O serviço oferecido pela LR representa um grande atrativo para o mercado, pois envolve uma documentação que permite comprovar a destinação correta do material, em sintonia com os princípios ESG”, acrescenta o CEO. Para desenvolver as inovações, por muitos anos a Teixeira Têxtil trabalhou apenas com a área interna de Pesquisa & Desenvolvimento. Mais recentemente, passou a estabelecer parcerias com instituições de ensino e centros externos de tecnologia. No prédio da matriz é realizada toda a produção do tecido, corte, impressão. Dali, os kits partem para sete confecções espalhadas pelo município de Forquilhinha – a descentralização foi necessária por conta do espaço amplo e da numerosa força de trabalho exigidos nesse processo. A empresa também tem confecções em São Paulo e em Minas Gerais, mas o plano é trazer 100% da produção para Santa Catarina.
